Era um gosto lúgubre saindo do céu da boca, se retirando pra longe de mim deixando as maçãs do meu rosto foliadas. Que misto de dor e prazer; quase não se via mais gestos nos dedos tortos das pessoas que andavam de cabeça baixa. Eu não encontrava soluto pras aberrações ígneas que aqueciam os corações mecânicos de cada um, em cada canto. Perguntei de Deus nessa hora, mas só ouvi o silêncio maiúsculo da negação atrofiada nos extremos do mundo. ‘O que quer comigo, e de mim, o que quer?’, mas ainda assim ele insistia em me ignorar para seu bel prazer. Fazer de mim marionete de veludo, me jogando no fogo, coberto de combustível? Pra que morrer hoje, se amanhã eu não vou existir? Andei pensando em tudo que fiz, percebendo o quanto eu deveria ser justificado. Minha vida não foi mais incomum ou imoral que a da maioria dos cidadãos do Vaticano. Não rezava a Deus, mas quem rezava com sinceridade? Que eu desabroche, mas não aceito que me definam como coisa natural; me reguem para eu reagir! Se eu morrer sem justificativa, minha alma vai cuspir de meu peito vômitos de heresias e bolas de pelo cobertas de blasfêmias. E foi mais um monte dessas coisas, tudo o que disse. Perdoei meu descontrole e minha impulsividade insólita, mas não fui perdoado por Ele, já que consegui morrer sem desejar.
[Inscrição para um portão de cemitério]
A morte não melhora ninguém...
Mario Quintana
3 comentários:
eu consegui sentir
eu senti estar no portão desse cemitério
Lucas cara
porra!!!!!
muito massa
ah e o Quintana alí no final, como um sábio que dá a ultima palavra e todos ouvem e vão para casa preenchidos de sabedoria
muito massa [2]
texto típico do teu jeito (: gostei!
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