O espetáculo
- Agora, você precisa voltar para a arquibancada. A dona do circo não gosta de crianças perto de mim. Ela acha que eu sou perigoso, e que é perigoso você ficar aqui, ainda mais na hora do espetáculo.
- Mas como ela pode achar uma coisa dessas?
- Eu não sei, Miguel. O meu pai sempre me disse que os terráqueos tinham muito medo dos lunáticos, mas eu nunca dei ouvidos. Eu achava que ele só dizia aquilo para eu nunca ir embora da Lua. Ah, é tão bonito ver a Lua daqui, ela é tão redonda e brilhante... Mas também é um pouco triste porque eu fico pensando no meu pai...
- Não, não fica triste. Quando eu crescer, eu vou ser astronauta e levar você de volta para a sua casa.
- Sabe, e é por isso que eu tenho tanta esperança. Na hora do espetáculo, eu fecho os meus olhos e imagino que esse dia chegou... Só quando eu caio na rede, e abro os meus olhos, é que eu vejo que não estou num foguete e nem voltando para casa. Que sou apenas um homem-bala, preso neste canhão.
As pipas
Quando Miguel perguntava quem era a sua mãe, ou onde morava o seu pai, o avô tossia para um lado, tossia para o outro, arranjava um resfriado, uma dor nas costas e só lhe respondia: "Ô Miguel, a sua mãe já volta. Daqui um pouco ela volta..." Mas a mãe nunca voltava, nunca.
Ele desmanchando as rabiolas. Ele olhando no portão. A cada laço que desfazia era uma esperança que se soltava, e ele já tinha reparado: quando as pipas voavam embora, elas voltavam para nunca mais.
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